ATA DA DÉCIMA QUARTA
SESSÃO SOLENE DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGILATURA, EM
28.04.1988.
Aos vinte e
oito dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se,
na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto
Alegre, em sua Décima Quarta Sessão Solene da Sexta Sessão Legislativa
Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear a passagem dos oitenta
anos de vida do Historiador e Professor Dante de Laytano. Às vinte horas e
vinte minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou
abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário
as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Frederico
Barbosa, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os
trabalhos da presente Sessão; Prof. Joaquim José Felizardo, Secretário
Municipal de Cultural, representando, neste ato, o Sr. Prefeito Municipal, Dr.
Alceu Collares; Sr. Emidio da Veiga Domingos, Cônsul de Portugal; Prof. Luiz
Osvaldo Leite, representando, neste ato, o Magnífico Reitor da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Prof. Francisco Ferraz; Conselheiro Raul Cauduro,
Membro da Diretoria da Academia Riograndense de Letras; Prof. Dante de Laytano,
Homenageado; Sra. Tereza Laytano, esposa do Homenageado; Verª. Gladis Mantelli,
1ª Secretária da Casa. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos
Vereadores que falariam em nome da Casa. A Verª. Gladis Mantelli, em nome da
Bancada do PMDB, falou sobre a obra de Dante de Laytano, destacando sua
importância como perpetuador da nossa vida e história. Discorreu sobre o lado
humano do Homenageado que, com sua simplicidade, amor e força tanto valoriza a
comunidade porto-alegrense. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB,
manifestou sua satisfação por participar da presente homenagem, dizendo ser ela
o reconhecimento da Cidade por tudo que S. Sa. tem feito em prol da
interpretação e da perpetuação da nossa história. O Ver. Frederico Barbosa, em nome das Bancadas do PFL, PDS e
PDT, teceu comentários sobre a grande divulgação que vem sendo observada em
torno do aniversário do Sr. Dante de Laytano, salientando que isso representa o
caráter do Homenageado, sua grande capacidade de conquistar amigos e sua busca constante
do desenvolvimento cultural do nosso Estado. E o Ver. Antonio Hohlfeldt, como
proponente da Sessão e em nome das Bancadas do PT, PL e PC do B, comentou os
motivos que o levaram a propor a presente homenagem, discorrendo sobre o grande
universo do qual participa o Prof. Dante de Laytano, como historiador,
escritor, professor e presença ativa e constante da vida cultural gaúcha. Após,
o Sr. Presidente leu correspondência recebida pela Casa, relativa a presente
solenidade e concedeu a palavra ao Poeta Luís Carlos Magalhães que recitou o
poema “Motivo”, de autoria de Cecília Meirelles. Em prosseguimento, o Sr.
Presidente convidou o Ver. Antonio Hohlfeldt a proceder à entrega do Troféu
“Frade de Pedra” ao Prof. Dante de Laytano e concedeu a palavra ao Homenageado,
que agradeceu a presente solenidade. A seguir, o Sr. Presidente fez
pronunciamento relativo à presente Sessão, convidou as autoridades e
personalidades a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar,
levantou os trabalhos às vinte e uma horas e trinta minutos, convocando os
Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os
trabalhos foram presididos pelos Vereadores Frederico Barbosa e Gladis Mantelli
e secretariados pela Verª. Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª
Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Frederico
Barbosa):
Declaro abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear a
passagem dos 80 anos de vida do Historiador e Professor Dante de Laytano.
Com a palavra, a Verª. Gladis Mantelli, que falará em nome da Bancada
do PMDB.
A SRA. GLADIS MANTELLI: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Srs. convidados. A praxe nos diz que devemos fazer um discurso por
escrito e eu cumpro a praxe. Não tanto pela praxe mas muito mais para que não
me emocione demais e não cometa equívocos, porque quando se homenageia pessoas
como Dante, não podemos cometer equívocos.
Não se pode medir precisamente a idade de Dante de Laytano, pois cada
ano de sua vida possui o tamanho da eternidade.
Cada minuto do seu viver é um ensinamento.
Cada hora, uma lição de vida fundamentada.
Cada dia uma decepção, uma alegria, uma tristeza, uma vitória, uma
perda, mas acima de tudo uma certeza, a de que valeu a pena.
Dizer que é imortal é usar uma expressão muito comum, usada para
dominar tantos outros que, merecidamente ou não, detêm este título. Prefiro
dizer que Dante é eterno, porque sua obra se revigora a cada instante.
Arquiteto da cultura, é um dos grandes formadores da consciência
nacional. Tarefa para a qual não hesitou em dar passos arrojados comprometidos
apenas com os princípios da liberdade, da justiça e da fraternidade, pontos de
ligação entre todos os homens e povos que, ainda acreditam nos valores humanos.
No desenvolvimento do seu trabalho, não se permitiu nenhum momento de
descanso, pois sabe que sua obra não tem só momentâneo, mas é um marco
histórico na medida em que reflete o passado, pensa e questiona o presente com
objetivo de perpetuarmos no futuro os acertos e usarmos os erros como lições
que não deverão ser repetidas.
Meu querido Dante:
És um homem que vives o teu tempo com dignidade. Por isto nós teremos a
história dividida no antes e no depois de Dante de Laytano. A razão de seres
senhor único do presente não se prende ao fato dos conhecimentos que deténs,
mas a simplicidade de alguém que coloca acima de seus interesses pessoais os do
seu semelhante, e que é sem sombra de dúvidas sonhador, que idealizou uma
sociedade que tenha como alimento essencial o saber. Todo aquele que segue este
pensamento sabemos de antemão que é um comprometido com as gerações vindouras.
Mas não te limitas apenas ao sonho, que já seria um grande valor, vais além,
trabalhas diuturnamente para fazer disto uma realidade, com o perdão da
palavra, és um operário da cultura.
Chegar aos 80 anos para ti é ter percorrido uma longa jornada. Para
nós, teus amigos e admiradores, uma dádiva de Deus.
Com esta idade, não mais te pertences, és orgulho e exemplo para teu
povo
Poderia discorrer sobre teu currículo, invejável compêndio das mais
variadas atividades, que em suma, objetivam estudar e conhecer com profundidade
a nossa história, para alterá-la de forma mais positiva possível. Mas prefiro
oportunizar isto aos outros oradores e deter-me mais no lado humano do grande
enamorado da cultura, da justiça, da família, do seu próximo e acima de tudo da
vida.
Querido Dante:
Quero, carinhosamente, abraçar-te na ocasião em que tenho a satisfação
de em nome do meu Partido, o PMDB, fazer esta saudação e dizer que me sinto
honrada e emocionada por esta oportunidade que me é concedida.
Tua mensagem pulsa e pulsará sempre, enquanto o amor iluminar o
Universo.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Concedo, a seguir, a
palavra ao Ver. Lauro Hagemann, que fala pela Bancada do PCB.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, esta Sessão poderia ser uma Sessão de nostalgia, mas não o é pela
simples presença do nosso homenageado cuja vitalidade aos 80 anos é capaz de
causar inveja a todos nós, mesmo àqueles que, ainda não chegaram lá.
A minha presença na tribuna, nesta Sessão, em homenagem aos 80 anos do
Professor Dante de Laytano, além de me ser um prazer inexcedível é um preito de
gratidão e homenagem por aquela figura que em determinado instante de minha
vida foi meu professor, de quem guardo as melhores recordações e ensinamentos
valiosos que me ajudaram a compreender um pouco melhor a história desse nosso
tumultuado País. O Professor Dante de Laytano chega aos anos de existência com
a rara felicidade de ser um homem de seu tempo imune aos tropeços de 80 anos
bem vividos, com a mesma vitalidade, com o mesmo carinho, com a mesma
disposição de quem está iniciando a vida, e isto é uma lição para todos nós.
Porto Alegre se sente muito honrada em tê-lo entre os seus cidadãos, não só
pelo o que ele representa para todos nós, mas pelo o que ainda poderá nos dar,
porque a julgar pela perspectivas do Professor Dante de Laytano nós ainda o teremos
entre nós por muito tempo. E tomara que assim aconteça, porque esta Cidade
precisa de espírito voltados para a modernidade, para o acompanhamento das
coisas que estão acontecendo, para a interpretação de fatos novos e, sobretudo,
como um exemplo a ser seguido por todos os cidadãos desta Cidade, deste Estado
e deste País.
Não vou me alongar, desejava apenas comparecer a esta tribuna para este
preito de homenagear a um homem que completa 80 anos com a disposição em que se
encontra o nosso homenageado. Meus parabéns e muito obrigado.(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito à Verª Gladis
Mantelli que assuma a presidência dos trabalhos, para que este Vereador possa
fazer uso da tribuna.
(A Verª Gladis Mantelli assume a presidência dos trabalhos.)
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli):
Concedemos a palavra ao Ver. Frederico Barbosa, que falará em nome das Bancadas
do PFL, do PDS e PDT.
O SR. FREDERICO BARBOSA: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, meus Senhores, minhas Senhoras, é com muita honra, escalado por uma
solicitação que achava absolutamente necessária, uma solicitação que fiz a meu
Líder Raul Casa, do Partido da Frente Liberal, que falo em nome da minha
Bancada. Honrado também com a indicação da Bancada do PDS, através do seu Líder,
Ver. Hermes Dutra e da Bancada do PDT, nesta Casa, através do seu Líder Ver.
Cleom Guatimozim, e na certeza de que certamente um de seus membros e amigo,
Ver. Isaac Ainhorn, que lastimou não estar presente, representaria a sua
Bancada e falaria em melhores condições, inclusive, do que eu.
Nos últimos dias, em artigos, entrevistas e saudações, muito se tem
dito e escrito sobre a figura extraordinária de Dante de Laytano, homenageado
desta Sessão Solene. Sua alegria, seu otimismo, seu humor, sua juventude, seu
amor aos livros e a família, sua paixão pelas viagens, seu espírito ao mesmo
tempo francês, italiano, português e brasileiro, foram destacados por várias
personalidades, o que limitaria minhas palavras, não fosse a riqueza
multifacetária do intelectual que cultuamos, que nos permite muitos destaques.
Na personalidade de Dante de Laytano nos impressiona a sua bondade. Em
sua vida de contatos profundos com situações variadas, no âmbito político,
cultural, científico e universitário, Dante se sobrepôs pela sua atitude
equilibrada, sem ódios, sem rancores, sem marcas, embora posicionada e
definida, o que fez nascer e se desenvolver o seu grande círculo de amizades.
Na personalidade de Dante de Laytano nos impressiona, também, o seu
desprendimento, diríamos até a sua pobreza evangélica. Seu elã radica-se no
idealismo da cultura. Por esta razão, Dante é o eterno presidente das
associações sem finalidades lucrativas, é o disputado conferencista, é o fértil
autor de obras científicas, é o requisitado prefaciador de oitenta e uma obras
dos mais variados escritores, inclusive jovens.
Na personalidade de Dante de Laytano nos impressiona, finalmente, a sua
capacidade de trabalho. Dante não para. É infatigável. Seus interesses não se
deixam limitar. São Paulo, falando de si mesmo e do seu trabalho, destacava a
sua “solicitudo omnium ecclesiarum”, o seu interesse por todas as igrejas.
Dante tem este interesse universal por todos os assuntos, por todas as áreas,
por todos os movimentos, por todas as associações, por todos os escritores, por
todos os artistas, por todos os costumes e por todas as tradições. Por esta
razão, história, folclore, literatura, poesia, antropologia, filosofia,
política e jornalismo são objeto da sua solicitude e preocupação permanente.
Por tudo isso, a Câmara de Vereadores, através do partido que
represento, se sente na obrigação de homenagear a figura de Dante de Laytano,
no momento dos seus 80 anos, período que muito honra a Cidade de Porto Alegre,
que não sabe viver sem conviver com Dante de Laytano. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SRA. PRESIDENTE: Passo ao Ver. Frederico
Barbosa a presidência dos trabalhos.
O SR. PRESIDENTE (Frederico
Barbosa):
Com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt, autor da proposição, que falará em nome
de sua Bancada - o Partido dos Trabalhos – PT, pelo PL e PC do B.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, meu querido Dante, demais componentes da Mesa, todos, de uma ou de
outra maneira muito próximos desta Casa e, sem dúvida, sempre próximos do nosso
prezado homenageado. Olho este Plenário e encontro a Rosinha, Profª. Isolda,
meu companheiro Caio Lustosa, Luís Carlos Magalhães, Lurdes Fellini, D. Mila
Cauduro, Prof. Rotmann, companheiros do MTG, outros tantos que tenho a infelicidade
de não conhecer e não identificar. Isso fala, exatamente, do universo
fantástico – e quero mencionar também Sérgio Costa Franco, meu amigo muito
especial – de relações abarcadas pelo Dante.
É por isso que me sinto honrado, não apenas em participar desta
cerimônia tão simples quanto sincera, como de ter recebido assentimento do
homenageado na idéia desta homenagem.
Efetivamente, ao vir ocupar uma das cadeiras do Legislativo
porto-alegrense não trouxe comigo apenas os compromissos partidários, mas,
sobretudo, a decisão e a preocupação de manter a coerência e ampliar as
relações que, profissionalmente e emocionalmente, desenvolvera, durante quase
duas décadas com os ativistas da cultura na nossa Cidade. Dá, inclusive, uma
decisão de propor à Câmara Municipal, que já homenageava os escritores gaúchos
com o prêmio de literatura “Erico Veríssimo”, algumas memórias e algumas
homenagens importantes, e de Dyonélio Machado, por exemplo, a Maria Della
Costa, ao Pinguinho, inclusive ao Luís Carlos Magalhães. Pois hoje cumpro,
neste momento, o dever e o direito, igualmente grato, que é o de homenagear o
intelectual nascido em Porto Alegre, em 1908. Alguém que, na sua juventude já
escreveu e fez teatro estudantil, alguém que já produziu contos e até mesmo
alguns poemas escondidos. Alguém que, ao longo da sua vida, sempre teve força e
iniciativa, escrevendo milhares de artigos, monografias, teses, ensaios, tanto
quanto foi capaz de dirigir e liderar instituições culturais. Mais do que
nunca, contudo, cumpro, neste momento, o direito e o dever de dizer em voz alta
do carinho, da simpatia, do reconhecimento, da amizade, do respeito, que
nutrimos por alguém que, antes de tudo, soube ser e continuar sendo, até hoje,
um ser humano de empatia imediata, que nos cativa e envolve com a sua humildade
e a sua disponibilidade para auxiliar e apoiar.
Não sei se o nome de batismo que lhe deram, que, certamente, honra o
poema magnífico, serviu de profecia, mas sei, de qualquer maneira, que quanto
mais vezes me encontro com Dante, mais e mais me fascina esta sua força
impressionante e esse seu amor não egoísta pela vida. Nunca vi Dante dizer-se
cansado ou impossibilitado de atender a um convite ou a alguém. Lembro-me de um
dia, em especial, em que eu, ainda Professor na Unisinos, orientava um grupo de
alunos, que resolveu convidar o Prof. Dante para ir a São Leopoldo. Fazia um
imenso calor, era uma tarde daquelas de verão do Rio Grande do Sul, pois lá
estava o Prof. Dante rejuvenescido, brilhante, engraçado e, ao mesmo tempo
sério, quebrando uma tradição tão lamentável entre nós; a mistura de
intelectual que, para ser sério, tem que ser casmurro. E com a caraterística
que sempre me aproximou dele. Observem o Dante, olhem-no, no momento em que
estiver distraído. Seus olhos brilham, de repente, acendem faíscas e pode-se
ter certeza de que sua mente está trabalhando em velocidade enorme, imaginando
algo, organizando alguma iniciativa, preparando algum gesto – o maior dele, já
sabemos, foi a instituição do Prêmio Ilha de Laytano, na boca autorizada de
Carlos Reverbel, hoje o mais importante aqui conferido. Vivendo num ambiente, a
universidade, que deveria ser o lar da educação, da pesquisa e do crescimento
intelectual, mas que, muitas e muitas vezes, tornou-se o esconderijo do cortejo
fácil da indolência e das disputas por cargos quaisquer, Dante de Laytano
jamais deitou-se em louros, títulos e cargos. Quando disputou algo, o fez
porque tinha projetos concretos para levar adiante. E isto ocorreu desde logo,
quando foi Diretor do Museu Júlio de Castilhos, integrou o Instituto Histórico
e Geográfico do Rio Grande do Sul, participou da Comissão Gaúcha de Folclore,
presidiu a Academia Rio-Grandense de Letras, ou teve a Direção do Arquivo
Histórico do Rio Grande do Sul. Não parou jamais no domínio da cátedra,
pesquisou permanentemente. Seja com o jovem pseudônimo de Davi Lage, seja
assinando seu próprio nome, a contribuição intelectual de Dante de Laytano
espalha-se por milhares de estudos, que cobrem, especialmente, a área do
folclore da História do Rio Grande do Sul, da Pecuária à Formação Ética.
Lembramos, por exemplo, a sua História da República Rio-Grandense,
surgida de pequeno opúsculo radiofonizado pela Rádio Sociedade Gaúcha, em 1935,
centenário da chamada Revolução Farroupilha, e cujo sucesso foi tão grande que
a Editora Globo resolveu editar os textos de um volume, cuja segunda edição
iria ser publicada pela Sulina, em convênio com a ARI, em 1983. Nela, Dante já
denunciava a marginalização dada pela historiografia nacional ao evento que
cobriu uma década em nosso território e buscava, na segunda edição da obra,
valorizar o episódio, inclusive mediante a interpretação de suas origens
políticas filosóficas, ligando-o ao contexto da história pátria. No prefácio da
primeira edição, contudo, destaca-se uma espécie de profissão de fé, que o
autor iria levar adiante pelo resto de sua vida, quando se lê: “Mensagem de
escritor novo, que não se corroeu pelo esnobismo dos sem-pátria, que ainda crê
no ideal e que ama as tradições eternas e históricas dos povos”, ele seguiria
este programa, obra a obra. À medida em que aumentavam os anos de vida, mais se
aproximava o pesquisador das raízes populares de que, aliás, jamais estivera
distante, desenvolvendo trabalhos, como, por exemplo, o “Linguajar do Gaúcho
Brasileiro,” editado pela Escola Superior de Teologia, 1981, em que, realizando
obra pioneira no gênero, ainda encontra espaço para estudar e analisar
detidamente alguns professores do idioma pátrio que se destacaram entre nós,
como Romeu Ritter dos Reis, Albino de Bem Veiga, Celso Luft, Flávio Ledur, e
tantos outros, de tantas gerações, ao mesmo tempo em que analisava os
precursores dos estudos populares da filosofia gauchesca, como Apolinário Porto
Alegre, João Cezimbra Jaques, Carlos Jamsem, Paixão Côrtes, ou pesquisadores,
muitas vezes, anônimos, mas sem os quais não teríamos fontes primárias
acessíveis, como o sempre respeitável Pedro Villas Boas, ou o sempre
empreendedor Barbosa Lessa, para englobar ainda, nesse volume, alguns pequenos,
mas valiosíssimos estudos de décadas anteriores, dispersos em volumes de
revistas, separatas, avulsos ou recortes de jornais inacessíveis, como a
Linguagem dos Pescadores, os Africanismos e por aí afora.
O apego à vida, o rejuvenescimento permanente, o aspecto de bonomia e até
de gosto especial por artes diferentes das tradicionalmente cultivadas pelo
intelectual sério, propiciariam a Dante de Laytano ainda uma outra contribuição
ímpar a nossa bibliografia. “A Cozinha Gaúcha na História do RS”, editado pela
mesma Escola Superior de Teologia, do nosso sempre querido Frei Costa.
Relacionando a Literatura e a Culinária, discutindo a função educadora do
jantar, falando da cozinha de campanha, reunindo receitas da cozinha da região
italiana, alemã, da orla marítima, açorianos, da campanha, certamente, Dante de
Laytano teve, na composição desta obra a participação, o apoio e a inspiração
muito importante de sua companheira Teresa, além da contribuição de dezenas de
amigos.
Em síntese, meu prezado Professor Dante de Laytano, que tantas vezes
compareceu a esta Casa e a esta Mesa para participar de homenagens a outras
pessoas, e já recebeu, aliás, a homenagem desta Casa que fazia jus, hoje, uma
vez mais, nos reunimos aqui, amigos, admiradores, discípulos, entre os quais me
incluo humildemente, para dizer-lhe, nesta festa dos 80 anos, o quanto sua
obra, especialmente sua vida, é importante para todos nós. Afinal de contas,
Dante, você queira ou não, é um tipo da Cidade de Porto Alegre, é um símbolo
desta Capital, e, quem sabe lá, exemplo do que fez Luiz Antonio de Assis Brasil
para com o Qorpo Santo, quem sabe lá, algum dia, não o veremos ressuscitar nas
páginas de um romance que vai mostrar-nos este Dante que hoje aqui homenageamos
perambular pelas ruas da Cidade, sorriso novamente aprontando das suas. De
minha parte espero apenas, chegando aos 80, ter a mesma vitalidade, a mesma
juventude, a mesma fé e a mesma força que você Dante demonstra, servindo a
todos de exemplo e de coragem.
Obrigado por aceitar esta homenagem, obrigado por continuar sendo como
você é, apenas Dante de Laytano. Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Gostaríamos de registrar que
a Câmara Municipal de Porto Alegre recebeu uma mensagem endereçada ao nosso
homenageado no seguinte teor: “Receba, prezado amigo, cordiais felicitações
pelos seus joviais 80 anos. Paulo Brossard, Ministro da Justiça.”
A seguir e certamente uma surpresa, concedemos a palavra ao Poeta Luiz
Carlos de Magalhães que prestará uma homenagem ao Professor Dante de Laytano em
nome de seus amigos.
O SR. LUIZ CARLOS DE
MAGALHÃES:
É, realmente, eu vim aqui como amigo do Dante, como todos aqui estava, como se
diz, fora do protocolo da Casa, mas como eu poderia dizer não em fazer uma
homenagem pessoal ao Dante? Só que eu não sou de oratória, todos sabem disso.
Então que homenagem mais bonita para o Dante, na sua jovialidade, de
que lembrar um pouco, nem mais que um pouco, a eterna Cecília Meireles, o seu
“Motivo”.
“Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não
sou alegre e nem sou triste, sou poeta. Irmão das coisas fugidias eu não sinto
gozo e nem tormento. Atravesso noites e dias ao vento. Se desmorono ou se
edifico, se permaneço ou me desfaço eu não sei. Eu não sei se fico ou passo.
Sei que canto e a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. Um dia sei
que estarei mudo. Mais nada.” Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR: PRESIDENTE: Meus senhores e minhas
senhoras. Há poucos dias atrás a Câmara Municipal instituiu o Troféu Frade de
Pedra. A entrega desta escultura traduz o apreço da população porto-alegrense
aos que, de alguma forma, prestaram serviços à comunidade da Capital gaúcha. A
escultura de um cavalo preso a um frade de pedra, historicamente traduz a
hospitalidade rio-grandense, eis o motivo pelo qual foi escolhido o frade de
pedra, ou seja, é o símbolo da fraternidade, eis que representa boas-vindas. É
no sentido de resgatar a amizade e ao mesmo tempo deixar na lembrança das
pessoas que o recebem o carinho e o agradecimento pelo seu trabalho e pelo
tempo que têm dedicado a esta Cidade, que se entrega em atos solenes a pessoas
que a Câmara deseja homenagear.
Convido o autor da proposição desta Sessão de Homenagem a Dante de
Laytano, Ver. Antonio Hohlfeldt, para que faça à entrega do Troféu Frade de
Pedra a nosso homenageado.
(É feita a
entrega do Troféu.) (Palmas.)
A seguir concedemos a palavra ao nosso homenageado, Professor Dante de
Laytano.
O SR. DANTE DE LAYTANO: Minhas caras patrícias,
prezadas amigas, gentis companheiras. Em primeiro lugar, meus agradecimentos a
V. Exas., figuras da terra natal, figuras desta amada Porto Alegre e que
perderam sua noite aqui para me homenagear. Quero dar meu agradecimento de
coração a todos que se deram o trabalho de aqui estar presentes. Peço licença
para fazer a saudação, se as palavras saírem direitas, naturalmente – espero.
Quero agradecer e cumprimentar aqui, pela ordem, que vejo na folha de informes
sobre a Mesa, meu querido Ver. Frederico Barbosa, que falou com a sua elegância
habitual, o seu porte, a sua fineza, o seu aspecto gentil a me saudar de uma
maneira tão carinhosa e tão agradável. Ao Prof. Joaquim Felizardo, a quem eu
tenho uma admiração pela sua coragem, pela sua valentia, pela sua personalidade
e pela fidelidade às suas idéias – acho que, realmente, isto é uma coisa
bibliográfica; preciso dizer estas palavras. Ao eminente Dr. Emidio da Veiga
Domingos, a quem eu saúdo de coração aberto, que sou um português, como V. Exa.
o sabe, e tanto admiro a sua terra, tanto a amo como amo o meu Brasil, e quero
agradecer a sua presença e a Sra. Consulesa, o meu reconhecimento, o meu
encanto pela sua presença nesta Casa, e quero saudá-la em participar, e aqui
dizer as minhas palavras. Ao meu querido e ilustre Cônsul de Portugal a minha
saudação. Ao meu caro Prof. Luiz Osvaldo Leite, que todas as manhãs, das 10 às
11 horas, no gabinete do Reitor, ao cortejar o poder, tomamos o nosso
cafezinho, grande amigo, querida figura, um sábio homem, Professor de Direito.
Ao Raul Cauduro, uma amizade velha, notável naquele seu porte, aquela sua
forma, aquela sua inteligência, aquelas suas coisas amáveis e gentis, os meus
cumprimentos por estar aqui pela nossa Academia de Letras, e a sua querida Mila
Cauduro, a quem também estendo as minhas homenagens, o meu apreço e a minha
admiração.
E as lágrimas de Gladis Mantelli são as lágrimas que caíram sobre o meu
coração: palavras lindas, suas palavras gentis. O meu caro Lauro Hagemann, pelo
seu discurso, pela sua forma, pela sua maneira de falar, pela sua autenticidade,
os meus agradecimentos. O meu querido Antoninho, essa figura tão inteligente,
tão extraordinária, tão capaz, tão criativa, um escritor poderoso, perfeito,
agradável, um jornalista, um político, um vencedor – meus cumprimentos.
Não era, mesmo, do meu feitio, escrever discurso, mas não queria correr
o risco. É difícil fazer-se um agradecimento deste tipo numa noite como esta.
Sou um porto-alegrense que ama, adora e vive a cidade em que nasceu, e isto com
todas as forças do coração, da alma, do cérebro, o mundo, a minha vida, pois
nasci em 23 de março de 1908, nesta Capital do Rio Grande do Sul, às 9 horas da
manhã, na Rua Dr. Flores, 88. Onde fica esta Casa? A memória se perdeu, ou foi
mudada, melhor, a casa desapareceu para que surgisse um vistoso prédio, outro
mundo, tudo muda, tudo se transforma e assim anda o tempo.
Desejo permissão para iniciar essas palavras de agradecimentos. Como
gostaria que elas fossem expressivas e representassem o meu fiel pensamento. O
quanto estou honrado pela lembrança gloriosa e como me vejo beneficiado pela
minha própria Cidade natal. Que beleza de manifestação! Que beleza de amigos!
Que beleza de palavras. Presentes os oradores, o Poder Municipal, queridas
personagens que aqui estão sentadas ao meu lado, meus velhos e gloriosos e bons
amigos e amigas, não mereço, mas recebo comovido essa homenagem, terei forças –
direi novamente – para revelar meus sentimentos? Não creio; entretanto anoto
aqui o meu perene encanto e os legítimos agradecimentos de um porto-alegrense
valorizado com essa homenagem tão fascinante quanto inesquecível.
Primeiro, o meu inteiro e perfeito reconhecimento ao Presidente desta
Casa, eventual, Frederico Barbosa que já o fiz; meu Presidente, efetivo, desta
Casa Dr. Brochado da Rocha. Ambos vêm de uma linhagem gloriosa, notável,
política que foi Otávio Rocha. Um grande homem, uma grande figura, um grande
estadista, homem novo, aos 35 anos já era líder da Bancada do Rio Grande na
Câmara dos Deputados e foi ele que transformou a fisionomia de Porto Alegre,
deu outro lado, outra tecitura, outro desenho, outra pintura e fez a Avenida
Borges, as grandes ruas de Porto Alegre e ainda tinha sido um Deputado
Estadual, um Secretário de Estado, um Engenheiro Militar, um professor da
Escola de Engenharia, um professor da Escola de Guerra, um homem que não quis
nenhum cargo em Berlim, nenhum cargo em Paris para ser Adido Militar nas
respectivas embaixadas do Brasil, na Alemanha e na França, para servir o seu
Rio Grande. Era um homem preso à sua terra, era um homem que sabia servir com
dignidade a todas as funções que lhe davam, mas, enquanto que fossem no Brasil,
enquanto que fossem no Rio Grande. Assim ele pensava e assim viveu. Comandou
vários Regimentos, inclusive, uma tropa de Elite no Rio de Janeiro e foi um
Jornalista Otávio Rocha, e brilhante, escreveu em diversos jornais da época. E
ainda foi Diretor da “Federação”, foi um dos maiores jornais do Rio Grande do
Sul, um jornal de idéias, um jornal de combate, um jornal de partido, um jornal
d princípio que foi uma das glórias do jornalismo brasileiro e foi o mais
importante jornal político do Rio Grande
e um dos maiores do Brasil. E assim, - como já tinha dito – aos 35 anos o
escolheram líder da Câmara dos Deputados e teve um Projeto que mostrou a sua
alma, mostrou os seus sentimentos, o seu valor. Ele propôs à Câmara dos
Deputados a devolução de todos os troféus tomados aos vencidos na Guerra do
Paraguai e o perdão da dívida do Paraguai para com o Brasil, um gesto quase
nobre, impossível, e mostrou o sentimento que Otávio Rocha sabia cultivar e
sabia ter. Só mais tarde o Dr. Getúlio Vargas ia sepultar esse Projeto que até
então não tinha sido sequer lembrado ou executado. Mas, a 14 de Outubro de
1924, ele entra triunfal pela Prefeitura de Porto Alegre, com uma eleição
notável, carregado pelos ombros da população de Cidade, mostrando admiração do
Rio Grande e Porto Alegre pelo grande Otávio Rocha, que depois fez a Av. Otávio
Rocha, a Av. Borges de Medeiros, Av. Júlio de Castilhos, a avenida que tem o
seu nome e uma série de grandes obras, feitos, e coisas, morrendo aos 50 anos.
Assim, meu caro Frederico, e digo também ao ilustre Presidente efetivo
da Casa, Ver. Brochado da Rocha que, são legados, são importantes; isso é uma
herança bonita. Esse é um fato bonito na biografia política de V. Exas. que são
tão jovens, que agora começam tão brilhante e a carreira política. Cabe-me
agora, e faço com prazer, com toda a consideração e admiração que tenho por
ele, o agradecimento a Antonio Hohlfeldt, meu caro Antoninho.
Toda a proposta para a realização desta Sessão Solene, que registra nos
Anais desta Casa de vereança, ficando neles, crônica do Município, memória da
Capital gaúcha, nos assentamentos da memória da própria Cidade, meus 80 anos.
Oitenta anos de um porto-alegrense devoto pela sua Cidade amada e adorada.
Antonio Hohlfeldt é uma expressão de sua geração, de escritor novo, de
escritores jovens, como ele, onde ocupa um lugar de destaque, num belo espaço,
que se concede, que a literatura e sua obra vai falar mais ainda no decorrer do
tempo. Tem um espírito criativo exemplar, original, com força de imaginação,
cultura e expediente da construção e o redigir num estilo insulto, respeitoso
com a gramática, sem afetação, um texto límpido, do seu estilo, abundante de
agrado pela graça de sua linguagem escorreita. Um jornalista, escritor,
professor universitário e político, meu Caro Antonio, um sempre vencedor.
Politicamente recebeu uma votação consagrada e o seu partido o trouxe para
Casa, onde se destaca pela sua elegância, pela ação inteligente, todas vezes
que intervém, seguro, decente, de capacidade. Um lutador pelos seus ideais. E
isso, sem dúvida, não merece apenas respeito, mas aplausos que os dou fazendo
justiça a sua atividade honesta, partidária e política acima dos interesses
pessoais mas visando o bem público, a verdade e a justiça. Assim é o jovem
político.
Escritor, sua obra já tem uma bibliografia de muito crédito. Com os
livros – “Mudanças”, “Antologia da Literatura Rio-Grandense Contemporânea Porã”
“Conto Brasileiro Contemporâneo”, “O Gaúcho: Ficção e Realidade”, “O Gravador
de Juruna”, “O Anjo Malaquias”, “A Dramaturgia Gaúcha Contemporânea”, etc. Um
pouco de sua obra brilhante. Prefaciou vários livros, colaborou para o
Dicionário de Autores Brasileiros editado pela Universidade do Arizona e na
Revista de Lisboa intitulada “Colóquio”. Sua presença ainda na França e
Bulgária, etc. Ele mesmo um tradutor da Editora Globo, como a “Teoria dos
Formalistas Russos”.
Figura em várias obras com uma apreciada e ótima colaboração:
“Imigração Italiana”, da Universidade de Caxias, na “Crítica Literária em
Nossos Dias e Literatura Marginal”, na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, “Vidas Notáveis”, Editora Globo, “Teatro Gaúcho Contemporâneo”, Assembléia
Legislativa, “Comunicação e Consciência Crítica” da Edição Loyola. Mas seus
editores em Porto Alegre são de grande posição: Rovilio Costa, L & PM,
Mercado Aberto e fora de Porto Alegre as Edições Antares, Loyola, Instituto
Nacional do Livro, etc. Aparece em antologia “De Corpo Presente” e está
estudado e consta dos verbetes do “Dicionário Literário Brasileiro” de Raymundo
de Menezes, “Dicionário Prático da Literatura Brasileira” de Assis Brasil. E no
– Dicionário de Autores Contemporâneos – “Quem é Quem nas Letras rio-grandenses”
– num verbete que faz justiça.
Considerando um dos expoentes da crítica literária, e com carradas de
razão, pela sua sólida formação humanística em aprimoradas leituras,
licenciando em Letras pelo Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
Como jornalista, trabalho com destaque no “Correio do Povo”, “Folha da
Tarde” e agora no “Diário do Sul” para jornais de João Pessoa, Goiás, Minas
Gerais, Brasília etc. Também, e com talento, cuida e trata de sua atividade de
jornalista, de cinema, dramaturgia e artes plásticas. Professor Universitário
na UNISINOS onde desfruta de grande prestígio como educador.
Eis o Vereador Antonio Hohlfeldt, professor universitário, jornalista,
escritor, crítico literário, de cinema, artes plásticas, de teatro. Gostaria,
evidente, de estudar-lhe a obra como ele fez e a ação que ele tem. Reservo-me
para fazer isso um dia. Estou grato ao jovem escritor pela sua proposta que
recebeu a aprovação da Casa do Povo e grato, encantado e feliz e muito
reconhecido fico pelo meu jovem amigo.
Agora mesmo, ao responder à televisão, como é que um homem jovem fazia
uma proposta para festejar um homem velho? Com é que um homem velho teria se
relacionado com um jovem? E dei a resposta habitual: este é o papel do
professor, se o professor não é amado pelo jovem, se ele não é estima pelos
jovens, se ele não convive com os jovens, se ele não se aproxima dos jovens, e
não tem o espírito da sua geração e nem encara o seu papel de professor. Deve
haver essa aliança natural entre o velho e o novo, entre o jovem e o antigo. E
esse relacionamento eu tenho e o faço com grande prazer – Lauro acentuou isto
também, Frederico acentuou, Gladis acentuou, nosso querido Antoninho fez o
mesmo. Realmente esse é o grande papel do professor. Não envelhecer, aceitar o
jovem, dar a eles a herança, transmitir-lhe o legado, dar-lhe a eles também a
possibilidade de ser como nós, trabalhadores, pensando naquilo que se deve
realizar na interpretação dos fatos, da literatura, na bibliografia, na
pesquisa, no ensino das aulas.
Para terminar este retrato de Antoninho, permitam narrar um episódio da
nossa atividade universitária, quando nos encontramos na Universidade de São
Paulo: ambos participando de um Simpósio da Fundação Giovanni Agnelli, que a
Fiat promovia em São Paulo, por intermédio de Rovilio Costa, grande mestre e
Luiz de Boni, um filósofo da magnífica estrutura cultural, e os dois de Porto
Alegre, lá realizando pela grande empresa automobilística, isso na Capital
Bandeirante, um Simpósio para estudar a presença italiana. Pois, o nosso
Antonio Hohlfeldt nos surpreendeu a todos, inclusive a mim, com uma tese
belíssima, inédita. O seu forte é a pesquisa pessoal aliada a originalidade: os
italianos na obra de Érico Veríssimo que se acoplava no texto de sua preferência,
das melhores coisas do Simpósio, que era o trabalho dele, Antoninho, que ele
denominou a cultura italiana e a literatura brasileira. Uma erudição de porte:
tese que mereceu aprovação sob aplausos. Eis o Vereador que propôs, nesta Casa,
festejar os meus 80 anos.
Muito obrigado Antoninho, pois assim o chamo com carinho e respeito que
merece seu talento, sua personalidade, sua figura. Tenho nesta Casa ilustres
amigos, Vereadores ilustres, não citando alguns não quer dizer falta de atenção
nem omissão voluntária, longe disto e jamais seria capaz. Quero dizer que estou
muito agradecido a todos os Vereadores pelo fato de aprovarem esses festejos
oficiais nesta Câmara da minha terra, nos meus 80 anos. E assim os Anais vão
ter que guardar a passagem deste aniversário de um porto-alegrense que
envelheceu na trincheira do bom combate. Frederico Barbosa, por exemplo, um
Vereador tão atuante quanto culto, meu amigo gentil e a ele devo uma mensagem
desta Casa pelos meus 80 anos. É uma solidariedade do jovem, do homem novo para
com o velho, o homem oitentão, mas aproximados o novo e o velho, pelo mesmo
amor por Porto Alegre, que está em nossas vidas. E ele também tem uma herança
ilustre, aquela que assinalei na genealogia familiar. Vereadores vários, como,
por exemplo, Caio Lustosa, meu ex-aluno, defensor intransigente do patrimônio
ecológico e histórico. Minha querida Verª. Gladis Mantelli, o Raul Casa,
Teresinha Chaise, Clóvis Brum, Isaac Ainhorn, Paulo Sant’ana, André Forster,
Cleom Guatimozim, Kenny Braga, Hermes Dutra, Lauro Hagemann, Mano José, Aranha
Filho, Jussara Cony, Artur Zanella, brilhantes, idealizadores, defensores dos
interesses de nossa Porto Alegre amada. Todos os Vereadores, mesmo os não
citados, eu aqui não os coloquei, mas eles estão no meu coração. É com as
razões da gratidão que faço meus cumprimentos mais leais a todos os Vereadores.
Porto Alegre foi amada, elogiada, cantada, saudada, e estudada por
todos representantes da literatura rio-grandense e muitos não rio-grandenses.
Eis um assunto magnífico, mas imenso. Muito avolumado para ser tratado em
aspectos particulares, uma síntese, devidamente sacrificada. Entretanto, cabe,
e eu acho que devo dizer estas coisas. Começando pelos historiadores, no caso,
Augusto Porto Alegre, com sua belíssima obra Fundação de Porto Alegre, e a
publicou em 1906 e até hoje é um livro indispensável e que chega aos nossos
dias como uma obra que ficou intacta, ou então esse operoso, incansável lutador
que foi Walter Spalding, pesquisador de uma rara atividade de trabalho, um
homem de uma cultura integrada no espírito do exame da história de Porto
Alegre, e que passou toda sua vida a estudar a Cidade em que ele trabalhava e
vivia. Mas, passando-se ainda por nomes como o de Manoel Antônio Magalhães, que
publicou seu famoso e afamado Almanaque da Vila de Porto Alegre, com reflexões
sobre o Rio Grande do Sul, no ano de 1908, quando começa então Porto Alegre a
ser assunto, Porto Alegre começa a ser tema, Porto Alegre começa a ser
apreciada e amada. Ou o encantador informante que foi Pereira Coruja e suas
“Antigalhas”, de 1881 e chegando e alguns dos atuais: Leandro Teles, Paulo
Xavier, Riopardense de Macedo e Rubens Neiss, Moacir Flores e Hilda Flores,
Catão Coelho, todos tratando de Porto Alegre. Não esquecer de Paranhos Antunes
e sua monografia “Porto Alegre no Século XVIII”, ou Tupi Caldas e “Porto Alegre
de Estância e Capital”, Felicíssimo de Azevedo e “Coisas Municipais” e Antônio
de Azevedo Lima com a “Sinopse Geográfica, Histórica e Estatística do Município
de Porto Alegre.”
Depois os cronistas. Destacando, principalmente, Aquiles Porto Alegre e
seus trinta livros, Porto Alegre presente em sua obra, ou Sebastião Leão e seu
“Porto Alegre Velho”; ao lado de mais passagens em outros trabalhos. Ari
Sanhudo, em “Crônicas de minha Cidade”, em 1961. Vêm, em seguida, os
jornalistas, que mantiveram colunas inteiras sobre a vida de Porto Alegre, no
caso, Arquimedes Fortini, ou Gaston Haslocher Mazeron, que terminaram por
publicar livros selecionando tais reportagens. Roque Calage, Zeferino Brasil e
Teodemiro Tostes possuíam, nos diários da época, uma apreciada coluna diária
sobre os costumes e os fatos e atos principais de Porto Alegre, o que também
fez Paulino de Azurenha, em 1895. Ou os geógrafos e Klebea Borges de Assis, ótimo
estudioso, nos dias de hoje. O escritor Alcy Cheuiche, com “O Guaíba e o Sena”,
livro belíssimo.
Romancistas notáveis em seu tempo, como Darcy Azambuja, ou Reinaldo
Moura, colocaram Porto Alegre como fundo principal de seus romances e Érico
Veríssimo, com seu imenso poder criativo, a falar do crepúsculo de Porto
Alegre. Mesmo o teatro usou Porto Alegre, desde Apolinário Porto Alegre, até
Ernani Fornari, o primeiro com os “Ladrões da Honra” e o outro com “Sinhá Moça
Chorou”. Dois grandes poetas fizeram o elogio a Porto Alegre. Claro que ao lado
de muitos mais. impossível pensar num levantamento deste tipo no presente
discurso. Mas não seria correto, em falando de nossa amadíssima Porto Alegre
que, pelo menos dois, não fossem ainda apontados: Álvaro Moreyra, um dos
escritores maiores de minha geração, com as “Amargas”, não, e os seus livros de
crônica, poesia e teatro, mais Athos Damasceno Ferreira, poeta esquecido mas
importante: “Poemas da Minha Cidade”. E, depois, suas crônicas “Imagens
Sentidas de Porto Alegre”. Ambos, Athos e Álvaro, são porto-alegrenses, além
disso.
Os viajantes preocuparam-se em dar a Porto Alegre um prestígio pela sua
beleza, crescimento e história. Iniciando por Saint Hilaire, Arsene Isabelle e
Nicolau Dreys, acrescidos de Antonelli, Harnich, Avelalemant e John Lucock, e
tantos tantos mais, que se aproximaram ou criticaram Porto Alegre, mas falaram
nele. Na maioria das vezes, com bons propósitos e intentos mesmo poéticos.
A Literatura resgatou, assim, um tributo admirável para Porto Alegre.
Em prosa e verso.
Bem, chegando ao fim deste agradecimento a um gesto magnânimo da Câmara
Municipal de Porto Alegre, então, volto a dizer que sou um porto-alegrense
nascido na Rua Dr. Flores, em 1908. Permito-me encerrar estas palavras, ainda
procurando um apoio. Que o faço indo ao notável livro de Sérgio da Costa
Franco, um historiador a que tanto Porto Alegre deve e jornalista do cotidiano
porto-alegrense, em sua “Zero Hora”. Luís da Silva Flores formou-se em
Medicina, no Rio de Janeiro, veio clinicar em Porto Alegre, como gaúcho da
cidade de Rio Grande e que escolheu, como sua segunda cidade, Porto Alegre. Foi
popular, humanitário, festejado. Eleito Vereador da Câmara Municipal de Porto
Alegre, em 84 (sic), reelegeu-se várias vezes, e foi Presidente desta Casa.
Termina a Revolução Farroupilha, as eleições voltam, e o Dr. Flores é eleito
Deputado Provincial da Assembléia do RS e, da mesma maneira, torna a se
reeleger várias vezes Deputado, e chega a Deputado Geral, do Império do Brasil,
e vem a falecer no exercício do mandato, consagrado em vida, e na morte, homem
dotado de uma formação de absoluta integração com a comunidade, a quem deu todo
o seu esforço e talento. E Porto Alegre lembrou-lhe o nome, ainda em vida, em
1883 (sic), 35 anos depois, já a rua não se chamava mais Rua Santa Catarina,
mas Rua Dr. Flores, onde vinha eu nascer, nesta mesma rua, nesta Porto Alegre
dos meus amores, afetos e encantos. Sou um modesto servidor desta Cidade, nela
vivi, e nela morrerei.
Quero aqui agradecer ao nosso Luiz Carlos Magalhães, os versos de
Cecília Meireles, que tanto amou e apreciou Porto Alegre, maneira pela qual,
ele escolheu o poema desta musa da nossa geração, da minha geração, uma das
belas mulheres, com seus olhos verdes claros, com uma imaginação prodigiosa, e
com uma das mais lindas poesias, ela mesma era a poesia em si. Foi uma escolha
feliz, meu caro Luiz Carlos, não imagina o quanto apreciei você ter escolhido
justamente esta grande mulher, que foi aquela que dominou toda a nossa época,
porque o maior poeta do Brasil era uma mulher, era Cecília Meireles. Sou um
porto-alegrense agradecido um milhão de vezes, com a honra maior desta
carinhosa cerimônia consagrada, pois na descida da montanha e de que altura,
quase perto do céu, ainda me cabe ver, entusiasmar-me e assistir à magia do
deslumbramento e do fascínio do crepúsculo de Porto Alegre. Sua própria poesia,
seu próprio poema, o poema da Cidade, e a lembrar de coração apertado e doce a
memória dos que partiram, meu pai, José, minha mãe Maria, devem estar aqui,
hoje nesta noite, em espírito, claro, simples, honesto, firmes e bondosos. Meus
filhos, minhas filhas, meu sogro, minha sogra, meus sobrinhos, minhas
sobrinhas, primos e primas, cunhados e cunhadas que estão perto sempre, e a
minha primeira esposa Íria amiga, 34 anos de amor, exemplar e apaixonado. E meu
anjo da guarda de agora que é Teresa, completa, de meiguice, plena, segunda
esposa, gentil, devota do seu marido.
E minha irmã Rosinha, querida e zelosa, acompanhante de minha vida.
Neste imenso mar onde as memórias navegam é difícil recordar os amigos mortos,
e os amigos vivos os tenho ao meu lado todas as horas e aqui os tenho, claro,
novamente, bem próximos, e vou poder abraçá-los com as minhas lágrimas de
alegria nesta Sessão Magna da Câmara da minha Cidade Natal. Sou grato.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Minhas senhoras e meus
senhores. Ao concluir esta Sessão Solene, a Mesa Diretora da Câmara Municipal
de Porto Alegre, em primeiro lugar, ao cumprimentar o autor da proposição, pela
lembrança do Ver. Antonio Hohlfeldt, realizamos esta Sessão extremamente
agradável. No dia de hoje a Câmara encerra agora, passada das 21 horas, sua
terceira Sessão de trabalho efetivo. A primeira no debate em nível das idéias e
as outras duas numa das obrigações que o representante popular também tem, até
mesmo por força do Regimento, a de homenagear aquelas pessoas que devem ser
realmente homenageadas, dentro dos mais variados segmentos sociais da Cidade de
Porto Alegre.
Ao cumprimentar o Ver. Antonio Hohlfeldt queremos cumprimentar também o
Professor Dante de Laytano, seus familiares, amigos e amigas que aqui
acorreram, ao Professor Joaquim Felizardo, Secretário Municipal de Cultura,
representando neste ato Sr. Prefeito Alceu Collares.
O SR. DANTE DE LAYTANO: Transmita, Professor
Felizardo, meus agradecimentos ao Sr. Prefeito e diga-lhe que me sinto honrado.
O SR. PRESIDENTE: Ao ilustre Cônsul de
Portugal, Veiga Domingos, ao ilustre Prof. Luiz Osvaldo Leite que neste ato
representa o Magnífico Reitor da UFRGS, Prof. Francisco Ferraz, ao ilustre
Prof. Conselheiro Raul Cauduro, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, a
todos senhores e senhoras, a Casa do Povo de Porto Alegre sente-se imensamente
satisfeita por realizar uma Sessão que realmente traz ao nosso Plenário alguém
que deve ser homenageado sempre, o Prof. Dante de Laytano, e através dele, seus
amigos e amigas que também honram muito esta Casa.
Ao encerrar agradecemos a presença de todos.
Estão encerrados os trabalhos. Muito obrigado.
(Encerra-se a Sessão às 21h30min.)
* * * * *